quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018




OLHO-NO-OLHO


Passou-me pelos olhos o post que falava acerca da dependência dos adolescentes pela Internet, do recurso excessivo que fazem dos ecrãs, da importância das redes sociais nas suas vidas, da interrogação acerca da dose exagerada de gadgets e afins que utilizam e isso transportou-me logo, de seguida, para o grandessíssimo risco de termos uma geração que se habituará a descurar a relação interpessoal, que se desabituará de olhar olho-no-olho, de tocar pele-na-pele, que não achará importante descobrir o tom dos olhos, a cor do sorriso, os cheiros, que não dará importância ao face-to-face, que se transformará, aos bocadinhos, se não tivermos cuidado, numa espécie de executores de um certo automatismo eficaz, mas despido de tanta coisa importante.
Não acho que esteja a exagerar.
Trabalho com crianças e adolescentes e tenho três filhos. Os gadgets e as redes sociais fazem parte das suas vidas e da minha também. Reconheço os riscos, mas também as inúmeras vantagens e mais-valias e sei que neste equilíbrio é que estará o ganho, encarando isto como uma coisa que veio para ficar, mas que deve ser gerida por nós, não nos substituindo, nem nos retirando a primazia.
Gostaria que os meus filhos, mesmo sendo miúdos dos dias de hoje, não descurassem tudo o que refiro acima. Gostaria que as tecnologias lhes dessem inúmeras vantagens e reforços, mas que NUNCA os substituíssem como sujeitos principais e como protagonistas das relações que estabelecem. Gostaria que  continuassem a escrever cartas e mensagens, mesmo que sejam de amor e mesmo que seja num teclado, gostaria que preferissem sempre explicar ao vivo os argumentos que sustentam as suas opiniões (quaisquer que elas sejam), que gostassem do toque e do olhar, que privilegiassem o sorriso, que não se escudassem atrás de um ecrã, por muito tentador que isso lhes pareça. Gostaria que aprendessem a gerir olhares e impressões, reconhecendo para si próprios um poder avaliativo e emocional que nenhum ecrã substitui e gostaria que integrassem tudo isto, de forma equilibrada e harmoniosa no feitio, ritmo de vida e personalidade de cada um. Esse é o segredo e o mais importante. E é um caminho que cada um deve MESMO fazer.
Pedir muito? Acho que não, até porque, haverá lá coisa melhor que um olho-no-olho?
Pois...



P.S- Há coisas para as quais não se precisa de gadget nenhum...
  

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