segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018






RELÓGIO SUÍÇO


E no meio da loucura de vida que se tem, parece que, às vezes deixamos de nos ver, contrariando a ideia de que o dia-a-dia e a coabitação nos tornam sempre presença vibrante. Não, às vezes não. Podem mesmo tornar-nos invisíveis, apesar de estarmos ali. Estamos e não vemos, falamos e não olhamos, sentimos e não pensamos, como se vivêssemos numa centrifugado que nos tira a energia. Pode ser uma coisa normal nas relações longas, acho eu, sejam elas de que cariz for. 
Mas depois também há um mecanismo de relógio suíço, vindo não-sei-de-onde que não falha e que nos dá a vontade de estar e de falar, de olhar e de tocar, de sussurrar e de ouvir. E este mecanismo de relógio suíço que (acho) não avaria, dá-nos vontade de namorar, de fazer pedidos parvos que fazem parte de nós: de ir ao cinema, de comer pipocas, de ver filmes tontos e repetidos as tardes inteiras na televisão, de falar sobre nada e sobre tudo, de estar só, contigo e comigo porque és tu e sou eu e porque fazemos parte um do outro, mesmo que sejamos, por vezes, insuportáveis. Aí a prioridade passamos a ser nós e a descoberta é sempre maravilhosa: A de TI E DE MIM, com todo o capital de vida, esperança e projeto que trouxemos para esta vida em comum.
E é sempre tão bom!
LUV U.



P.S. Há quem diga que os relógios suíços são os melhores...




quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018




OLHO-NO-OLHO


Passou-me pelos olhos o post que falava acerca da dependência dos adolescentes pela Internet, do recurso excessivo que fazem dos ecrãs, da importância das redes sociais nas suas vidas, da interrogação acerca da dose exagerada de gadgets e afins que utilizam e isso transportou-me logo, de seguida, para o grandessíssimo risco de termos uma geração que se habituará a descurar a relação interpessoal, que se desabituará de olhar olho-no-olho, de tocar pele-na-pele, que não achará importante descobrir o tom dos olhos, a cor do sorriso, os cheiros, que não dará importância ao face-to-face, que se transformará, aos bocadinhos, se não tivermos cuidado, numa espécie de executores de um certo automatismo eficaz, mas despido de tanta coisa importante.
Não acho que esteja a exagerar.
Trabalho com crianças e adolescentes e tenho três filhos. Os gadgets e as redes sociais fazem parte das suas vidas e da minha também. Reconheço os riscos, mas também as inúmeras vantagens e mais-valias e sei que neste equilíbrio é que estará o ganho, encarando isto como uma coisa que veio para ficar, mas que deve ser gerida por nós, não nos substituindo, nem nos retirando a primazia.
Gostaria que os meus filhos, mesmo sendo miúdos dos dias de hoje, não descurassem tudo o que refiro acima. Gostaria que as tecnologias lhes dessem inúmeras vantagens e reforços, mas que NUNCA os substituíssem como sujeitos principais e como protagonistas das relações que estabelecem. Gostaria que  continuassem a escrever cartas e mensagens, mesmo que sejam de amor e mesmo que seja num teclado, gostaria que preferissem sempre explicar ao vivo os argumentos que sustentam as suas opiniões (quaisquer que elas sejam), que gostassem do toque e do olhar, que privilegiassem o sorriso, que não se escudassem atrás de um ecrã, por muito tentador que isso lhes pareça. Gostaria que aprendessem a gerir olhares e impressões, reconhecendo para si próprios um poder avaliativo e emocional que nenhum ecrã substitui e gostaria que integrassem tudo isto, de forma equilibrada e harmoniosa no feitio, ritmo de vida e personalidade de cada um. Esse é o segredo e o mais importante. E é um caminho que cada um deve MESMO fazer.
Pedir muito? Acho que não, até porque, haverá lá coisa melhor que um olho-no-olho?
Pois...



P.S- Há coisas para as quais não se precisa de gadget nenhum...
  

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018





DE OUTRO MUNDO

Às vezes sinto que podia fazer muito mais e diferente. Encher o dia de coisas originais e dinâmicas, que marcassem pela diferença e (alguma) excentricidade. Enumero mentalmente tudo o que poderia fazer aqui, ali e acoli e não faço. Revejo-me em situações imaginárias em que poderia estar envolvida. Mas depois deparo-me com alguma inércia que os dias carregam, com o peso das logisticas de sistemas que são pesados e obsoletos, com cansaços meus e com coisas que não são como deveriam ser. E assim, às vezes neste misto de sensações vou passando os dias. 
Um dia um colega disse-me que iam haver muitos dias em que acharia que nada fizera, numa sensação de impotência, quase frustração. As aprendizagens formais, com estes alunos, são reduzidas, quase nulas e não me poderia centrar aí. 
E depois há aqueles dias em que achamos que fazemos tudo igual, mas nos agradecem, penhoradamente, como se o que dizemos ou fazemos fosse do outro mundo. Há aqueles dias em que correm para nós e nos dizem "gosto de ti, professora". E aí estes tais dias de uma certa impotência que se sente deixam de pesar, pois percebemos que se calhar o importante é a genuidade que pomos quando lhes falamos, ou a sinceridade do sorriso que lhes damos. E isso, mesmo correndo ao lado do peso dos sistemas, da falência de paradigmas, da rigidez de regras e normas que não conseguimos suplantar, faz a diferença e devolve significado ao nosso trabalho de todos os dias. 
Cá por mim, o "gosto de ti, professora", vai bastar por hoje. E encher-me o ❤️ Por mais uns dias.