segunda-feira, 23 de janeiro de 2017


LET'S GO MOVIES!


Os livros e os filmes serão sempre do agrado, ou desagrado mais íntimo de cada um. Quero com isto dizer que a mensagem desses livros, ou desses filmes, será lida individualmente por cada um, traduzindo-a segundo os códigos de análise próprios que temos, ou devemos ter e segundo os estilos de que cada um gosta. E acho mesmo que é um exercício de inteligência filtrar/processar o que lemos/vemos à luz dos nossos códigos de análise. 
E isto é absolutamente livre.

Foi isso que me aconteceu ontem quando vi o filme  SILÊNCIO, de Martin Scorsese, adaptado do romance homónimo do escritor japonês, católico, Shusaku Endo. 
É um thriller espiritual que relata um período da história do Japão, chamado período de Edo (de 1603 a 1868) onde, entre outras coisas, se baniu o Cristianismo do território, usando uma variedade enorme de mecanismos violentos de controle sobre a população.
Através da busca do Padre Cristovão Ferreira, acusado de ter apostatado, (renegado a sua fé) dois seus antigos alunos (Sebastião Rodrigues e Francisco Garupe), seguem para o Japão, duvidando de tal ato e procuram-no, confrontando-se com uma realidade muito cruel para com as pequenas comunidades cristãs ainda existentes e também com a verdade de tal acusação. Um deles, acaba também por apostatar quando, mais tarde, perante um sofrimento atroz que poderia ser infligido a outras pessoas, opta por renegar as suas convicções mais profundas.

Gostei do relato dos episódios históricos, ou não gostasse eu de História. Gostei da interpretação de todos, mas especialmente de  Andrew Garfield, no papel do Padre Sebastião Rodrigues. Gostei da forma como se desenlaça o dilema fé/apostasia. Gostei do percurso interior e denso das personagens. Gostei da interpelação/busca das pretensas respostas de Deus que todos temos, tantas vezes. Onde Estás? Porque não Te manifestas? Gostei da constatação de que Deus está e fala tantas outras vezes no SILÊNCIO (e esta já é a minha interpetação). Gostei de ter concluído (outra interpretação) que houve uma vitória secreta e íntima da fé cristã. Gostei de ver que a fé não tem, muitas vezes, um caminho triunfante e épico, mas que cresce sim, em linhas curvas, nos pontos de rutura, onde nos restam poucas certezas (-José Maria Brito, in Jornal OBSERVADOR, crónica de 3/12/2016.) Gostei de entrar nas sombras mais profundas da fragilidade humana e recordar que a última palavra é de Deus. (-José Maria Brito, in Jornal OBSERVADOR, , crónica de 3/12/2016.).
Gostei enfim, do poder sublime do cinema que nos leva para fora de nós, às vezes.
Por isso, um livro, ou um filme, melhores, ou piores, serão sempre um bom exercício: livre e (quase) terapêutico. Experimentem!

Sem comentários:

Enviar um comentário