domingo, 17 de maio de 2015




BALÃO DE HÉLIO


-Mãeeeee, chega lá aqui... - a voz era sumida, quase arrastada e arrastada também lá fui eu, que tinha acabado de me sentar.
Era quase meia-noite e, contra todas as regras da prudência (e saúde imediata), preparava-me para um zapping nos meus canais por cabo, para um filme, ou série de eleição. - Afinal, só a partir dessa hora dá alguma coisa de jeito- lá ia repetindo em modo de descarga de consciência.
-Sim, querida, diz lá... Sentei-me à beira da cama e acolhi aquele desabafo velado, tapado com o braço, em modo de descompressão.
Refutava tudo o que lhe ia respondendo, à boa moda de jovem certa e segura das suas certezas, como se só essas fossem inabaláveis e absolutas. Com pinças, intuídas na hora, lá fui conduzindo a conversa, prestando-me logo a ouvir mais do que a rebater argumentos, que no calor da angústia, nunca são bem acolhidos. - Talvez noutra altura, pensei... talvez noutro enquadramento menos emotivo. Resultará seguramente melhor.
Ia-lhe limpando as lágrimas e vendo ali uma menina mulher tão linda, tão responsável, mas também tão novinha ainda, com tanto tempo e tanto caminho ainda por percorrer.
Optei pela única coisa que não poderia refutar, suportada na minha certeza de mãe, 25 anos mais velha e tão parecida com ela em tantas coisas: o meu colo estaria sempre ali, só para o desabafo, se fosse caso disso e algo havia de certo e absoluto: tudo passaria, dia a dia, semana a semana, stress a stress, pressão a pressão. Afinal, a vida é feita dessas coisas, da gestão destas pressões, timmings e objetivos e às vezes, há alturas em que parece que uns lados da nossa vida estão mais desequilibrados que outros, porque a alguns damos menos tempo e espaço, mas no fundo, esse desequilíbrio,  só nos leva é a equilibrarmo-nos outra vez, logo a seguir. Esse é o segredo.
- Então, calma, respira fundo, sossega que tudo passará, vais ver... Prometo. 
E dei-lhe um beijinho, impondo-lhe agora o descanso necessário, que faz parte do resto do pack, o tal da tranquilidade...

Bolas, se isto de ser mãe não é das coisas mais exigentes que já fiz, vou ali e já venho, mas também, reconheço, é das mais enaltecedoras, daquelas assim que enchem mesmo a alma... como um balão (de hélio, que duram mais tempo)!


P.S. Hoje, o sol, trouxe novas cores ao dia... 
Como se eu já não soubesse...


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