quarta-feira, 22 de abril de 2015





MARE NOSTRUM

(nome dado pelos antigos Romanos ao Mar Mediterrâneo)

Se me consigo imaginar a viver num cenário de guerra, horroroso, privada da mais fundamental das liberdades e direitos? Se consigo imaginar os meus filhos sujeitos a violações físicas e psicológicas dia após dia? Se consigo conceber uma vida com medo, sem cheiros e cores de alegria, de família, de trabalho, de convívio, de amigos e de normalidade saborosa? 
Se me meteria num barco apinhado, pouco seguro e perigoso, ajudada por gente sem escrúpulos que só havia de me querer explorar? Se estaria disposta a transpor um Mar, que haveria de me parecer pequeno? Se sonharia a todo o custo com uma liberdade e com uma normalidade saborosas, mesmo ali depois daquela linha do horizonte tão aparentemente próxima?
Pois... 
Imagino em teoria algumas destas respostas, mas só em teoria, porque na realidade não consigo conceber nada disto, eu que tenho o privilégio de viver num sítio (ainda) seguro e calmo e que posso experimentar sensações de liberdade, criando os meus filhos perto de mim, num clima de paraíso, quando comparado com outras realidades.
Pois, de facto, é-me impossível imaginar tudo isto. Mas uma coisa eu sei: o desejo de viver em liberdade será para sempre universal e intemporal (a História mostra-nos isso...) e o desespero de não a ter, ou de a perder, a renúncia à miséria e à pobreza extremas, o sonho de viver melhor e de poder criar para os filhos uma realidade mais sorridente, tudo isso, fará sempre parte da natureza humana. E aí, seremos sempre e definitivamente iguais.

E é com um coração apertado de imagens horrorosas que nos entram pela casa adentro, que penso em todos eles e que imagino (tento!) aqueles cenários de inferno. Apetecia-me abraçá-los e aquecê-los, aconchegá-los e cuidar-lhes das feridas, mandar no mundo e exigir para eles uma vida melhor, para que não tivessem que fugir daquilo que conhecem e enfrentar um desconhecido tão hostil, morrendo muitos assim, de forma tão fácil e cruel... 
Eu não mando no mundo, mas mando naquilo em que penso e que transmito aos meus e a esses digo, COM TODAS AS LETRAS que é desigual e cruel vermos gente assim, tão injustamente diferente, separada só por um Mar que TAMBÉM É DE TODOS! 
E acredito a sério, que estes legados pequeninos que vamos deixando ao som das palavras, também vão fazendo História e mantendo em nós a capacidade de sonhar. É que essa, também é intemporal e não tem latitude...




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