terça-feira, 21 de outubro de 2014





ALMAS E SORRISOS...


Estive lá hoje para uma consulta. Tenho uma coisa mal resolvida com hospitais e toda eu me altero quando lá tenho que ir. É irracional, mas pronto, entrei, subi, segui as placas e lá fui gerindo o que tinha que fazer e onde tinha que esperar. Sentei-me e lamentei logo não ter levado o meu livro para gerir a espera. Cheguei mesmo a ficar irritada, mas de facto, ele é tão grosso que teria sido uma peso exagerado no saco. - Bom, espero ao menos não ter que esperar muito tempo e ainda por cima com tanto calor! Tirei o leque da mala. Sim, eu ando com um leque, céus, mas ainda bem, porque já me tinha esquecido que ali é sempre um calor grande... Olhava à volta. Muita gente, mas o meu olhar parou em alguns velhinhos, com ar mais desprotegido, sem instrução, frágeis e vulneráveis à (pouca) simpatia de algumas funcionárias. Há gente muito pouco simpática, de facto, impaciente, azeda, sisuda... Temos um país de velhos, mesmo! Encostei-me para trás e fechei os olhos. Demoraria muito para que me chamassem? Ela estava ao meu lado, era velhinha, magrinha e baixinha. Deve ter simpatizado comigo porque acedeu logo ao meu sorriso e começou a falar, o que me fez abrir os olhos. - Sabe, menina, o meu filho não mora aqui... Lá na terra dele, há um hospital lindo, muito bem equipado, as meninas estão todas fardadas, vêm logo ter connosco... mas sabe, do que mais gosto é das paredes coloridas. Cada sala é de uma cor e as cadeiras são da cor das paredes. Acredita que é disso que me lembro quando de lá saio? Não é como este corredor... A menina é tão bonita e tão nova, o que faz aqui?  Disse isto num fôlego e eu lá lhe ia respondendo como podia e entretanto chamaram por mim. Agarrei-lhe as mãos nas minhas, para que parasse de falar, já que não se apercebera que me chamaram e continuava sem fim... - Tenho que ir, já chamaram por mim... um beijinho, corra tudo bem... e fiz-lhe ainda uma festinha na cara antes de entrar.
Fui muito bem atendida lá dentro, acho que o serviço funciona muito bem, está muito bem equipado, a tecnologia é de ponta, o pessoal é profissional, simpático e acolhedor. Senti as minhas dúvidas acolhidas e percebi tudo o que tinha que fazer a seguir, onde tinha de ir, o que tinha de perguntar. Saí de lá contente, comigo e com quem me atendeu. Temos serviços públicos muito bons sim senhora, às vezes, temos é a mania de desdenhar, sem conhecer!
Claro que a velhinha da conversa já lá não estava quando eu saí. Fiquei a pensar nela e na possibilidade de se colorirem aquelas paredes, corredor a corredor. Ao menos ficaria mais alegre, não há dúvida e a alegria podia entrar em quem espera, por uns segundos, colorindo-lhes a alma antes das consultas. Se calhar, quem pensou nos hospitais, tinha mais em que pensar e esqueceu-se que as almas se podem colorir, nem que seja por uns segundos... a minha, hoje, ficou às cores quando ela, a sorrir, me chamou menina...


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