quinta-feira, 7 de agosto de 2014



SORRIR PARA DENTRO



-Eu percebi porquê...
-Percebeste, a sério? Olha que eu não...
-Sim, eu percebi... - e o meu silêncio seguinte, misturado com um afazer oportuno que ali surgiu, deu à frase um jeito de frase final, que não prevê mais comentários e o meu mais-que-tudo também seguiu com o resto do que estava a fazer, resignado a estes ares de certeza que às vezes ponho nas coisas. Decifrei em absoluto o que se passava, bastando-me olhar para ela e transpondo-me para os meus longínquos, mas maravilhosos 16 anos e sorri para dentro, achando maravilhosa essa idade, de certezas, descobertas e dúvidas.
Pois é! Sei que às vezes estou cansada, às vezes não tenho paciência e grito, às vezes quero estar sozinha com as minhas coisas, às vezes não os posso já ouvir e fico impertinente e chata, às vezes, uns dias sem filhos saber-me-iam a mel e às vezes não me sinto culpada de sentir isto. Sou uma pessoa normal e não uma super pessoa, mulher, ou mãe. Isto é um facto, mesmo que viva a maternidade de uma forma plena e mesmo que os meus filhos sejam a minha prioridade, sempre.

E hoje, quando peguei no livro e abri, ao acaso numa das páginas, foram estas linhas que li, no início de um capítulo qualquer...As mães têm uma sonda que assinala os filhos num mapa emocional preciso. (...) As mães sabem. Como se tivessem um mapa em forma de coração, cheio de pequenas luzes, avisando dos ventos, das tempestades. (...) Antes de verem o chão e as paredes da casa, o gado e o rosto dos maridos, as mães vêm o coração onde mapearam os filhos e a partir do qual ponderam as tempestades" - VALTER HUGO MÃE, in a DESUMANIZAÇÃO, p.107

Confesso que nunca li nada dele e mea culpa, que acho que é muito bom, mas este livro comprei-o logo, afinal, já o andava a namorar há algum tempo e foi hoje, pronto, à boleia deste click de cumplicidade com estas palavras, deste autor. Recordei em segundos e por flashes cerebrais a conversa que transcrevo acima e sorri para dentro outra vez, que é uma arte que vou aprendendo a aperfeiçoar. De facto, acho que o meu coração de mãe deve ser em forma de mapa e, como aqueles mapas completos que estudávamos na escola, tem lá tudo, tudo, tudo assinalado com diferentes cores e símbolos. Só que a escala deste mapa, em forma de coração de mãe, essa, só eu é que decifro!!




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