quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014





AVÔ DA HEIDI


É baixinho e tem o cabelo todo branco. Está quase sempre a sorrir e é de uma delicadeza (quase reverência) para connosco que me encanta. Usa óculos redondinhos e anda devagarinho, como aquelas pessoas que já não têm pressa e que, por isso, saboreiam o que vêm nos outros. Vem todos os dias buscar as duas netas à escola, em horas diferentes, às vezes. A neta mais nova, depois do lanche, dá-lhe a mão pequenina e segue-o, muito contente, caladinha como é, mas detentora de um sorriso feliz. Decerto, já só com ele e os segredos que partilham, vai-lhe contando o que fez durante o dia, ou do que se lembra melhor. Às vezes quando saio, um pedacinho depois, vejo-os ainda por ali, junto ao carro, ou andando enquanto conversam. Percebo que estão à espera da outra neta, um pouquinho mais velha. Quase todos os dias este avozinho me enternece. Acho-o sereno, educado e cortês, com expressões que quase já não se ouvem por aí..."obrigado senhora professora"; "se me dá licença"; "fico-lhe agradecido"... Derreto-me com esta delicadeza baixinha, magrinha e de 75 anos, de cabelo todo branco e com óculos redondinhos de metal e enquanto dura o meu derretimento, fico com mais certezas que o registo doce, calmo, educado e suave desta menina, terá um pedacinho deste avô.

Vejo diariamente muitos avôs e avós de meninos e meninas da minha sala. São muitos e todos diferentes. Há avós novas, modernas, giras e simpáticas, recém reformadas, ou que trabalham ainda (muitas vezes e cada vez mais sendo o suporte económico de muitas famílias), que conduzem e têm telemóveis de topo, com acesso à Net e outras facilidades já tão corriqueiras; há avôs mais velhos, mas vigorosos ainda, que vêm buscar os netos e apoiar os filhos nestas logísticas difíceis dos dias de hoje; há avós e avôs gastos e cansados, de vidas suadas e complicadas, mas que assumem os netos porque sim, a vida não está para coisas e enquanto eu cá estiver... Em todos penso às vezes, lembrando-me também, na sorte que eu e os meus irmãos tivemos por ter tido a presença dos avós em momentos diferentes das nossas vidas e na sorte que os meus filhos têm por terem os avós (de um e outro lado) tão presentes e atuantes. Acredito mesmo que a referência dos avós pode ser estruturante para o desenvolvimento da personalidade, já que pintam o coração dos netos com um pincel diferente do dos Pais.
E hoje, o meu post é para o avô de que falo no início, aquele que anda devagarinho e não tem pressa, pela sua delicadeza, pela sua cortesia, pela sua meiguice, pelo seu ar feliz por poder fazer isto TODOS os dias, sem se importar. Sei que a sua neta é muito sortuda por poder ser co-participante dessas felizes horas e tenho a certeza que vai ficar positivamente marcada por elas.
Acho que o avô da Heidi era alto, robusto e de barbas brancas, bem típico dos Alpes e da vida das montanhas, se bem me lembro da história que adorava, mas pronto, sempre que vejo o avô feliz da minha história, é do avô da Heidi que me lembro, não sei porquê, talvez porque tenham os dois a mesma força e a mesma forma de pintar corações... 




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