terça-feira, 8 de outubro de 2013




PÉROLA PEQUENINA


Sempre gostei de reparar nas mãos das pessoas. É uma mania como qualquer outra. Gosto de ver mãos arranjadas, mas naturais, confesso. Não sou super fã de unhas de gel e afins que agora existem e que tentam embelezar as mãos, a não ser que aquelas tenham um ar super natural e isso implica que sejam muito bem feitas, o que nem sempre acontece. Acho que um ar natural, dá às mãos a maior beleza. Num homem, é das coisas em que mais reparo. Gosto de mãos grandes, calorosas, sendo muitas e muitas vezes as acompanhantes perfeitas de uma lágrima, um desabafo, um ânimo, um entusiasmo, um beijo, contribuindo para um calor e magia especiais de duas pessoas que se tocam. O poder do toque é enorme e maravilhoso! As mãos, para mim, são quase sempre, complementos da voz, da frase, da expressão. Aí, ganham vida própria e energia, embaladas pelo que vou dizendo, por isso sempre me disseram que falava com as mãos também, como se às vezes eu parecesse uma orquestra (nem sempre afinada, admito!) de voz, mãos, corpo, palavra.
E esta orquestra de voz, mãos, corpo, palavra, vive dias intensos nos meus dias de trabalho e fez-me hoje descobrir um tesouro...à tarde, uma pessoa pequenina do meu grupo escolheu um livro para a HORA DO CONTO. - É este, sim, este é lindo! Vi de relance que não era um livro de histórias e que tinha sido atraído pela cor e desenhos lindos da capa, mas isso foi apelativo e, mesmo contrariada (não me apetecia nada contar aquela história...), resolvi aceder ao pedido. Então, expliquei, é um livro que explica coisas, não tem mesmo uma história, mas vamos ver as imagens, ouvir o dizem as frases e aprender, porque é mesmo assim, nem todos os livros são de histórias... pois não, diziam, há dicionários, livros da escola e esses não têm histórias, pois claro, mas nós vamos transformá-lo...
E lá começámos o "PARA QUE SERVEM AS MÃOS" ( não me lembro agora do nome do autor e editora... tenho o livro na escola...). A minha orquestra começou a tocar e a voz, o corpo, a expressão e as mãos, lá iam dando vida àquele livro que se tornou tão giro de repente (e tenho-o há tanto tempo e nunca lhe tido ligado nenhuma!!)... Com o estribilho repetitivo de "AS MÃOS NÃO SERVEM PARA BATER", lá se explorava todo o esquema corporal, a higiene, a alimentação, as relações sociais, as rotinas diárias, os afetos, viajando à volta do mundo inteiro que é formado por aquele universo de coisas que podemos fazer com as mãos... escrever, pintar, recortar, fazer ginástica, comer, pentear, lavar (-se) e, de repente, com os olhinhos castanhos postos em mim, aquela pessoa pequenina que tinha escolhido o livro e que tem umas bochechas gordas maravilhosas e um nariz arrebitado disse, em modo sopinha de massa, do alto dos seus três anos e com ar sonhador, mas seguro... com as mãos podemos fazer festinhas, dar abraços, dar miminhos, dar cinco... e ia repetindo, baixinho em quase surdina! Ninguém o ouviu, pois a dinâmica do grupo tão grande seguiu impiedosa e os nossos códigos auditivos vão ficando, mesmo contra a nossa vontade, viciados em barulho, agitação, tornando estas pequeninas pérolas, invisíveis e transparentes, mas eu ouvi e apeteceu-me dizer-lhe meu amor pequenino, tu já sabes tudo e tanto e essa pérola é maravilhosa!!! 

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