quinta-feira, 4 de abril de 2013




AMÊNDOAS DE AÇÚCAR?





Hoje, uma amiga minha, a Ana, tinha este post no Facebook sobre a "Para que serve uma relação ?"
De imediato, me lembrei "deles"... não sei porquê que foi "deles" que me lembrei... a sua relação não era "a ideal", mas marcou-me na infância e talvez por isso, a analogia, ironicamente, tenha sido esta. Vá-se lá perceber...
Eu era miúda e não processava a informação que "me entrava pelos sentidos", da forma que processo hoje, CLARO, NÃO PODERIA. Acho que a processava como uma miúda normal, endiabrada, vivaça, despreocupada e amada por uma família sólida, que a preenchia... Hoje, olho para trás para esse "retalho" de pensamento, lembro-me "deles" e já processo o seu assunto da forma que a minha visão de mulher me permite, de mulher, e de mãe, e de cidadã... Comparo a lembrança que retenho deles e a explicação que hoje dou a essa lembrança e acho engraçado como todas as explicações sempre lá estiveram  mesmo que eu não as visse, porque tinha olhos de criança que só vêm o que a doçura e ingenuidade podem ver. É como quando comem uma amêndoa de açúcar... encantam-se no doce e quando este acaba, jogam-na fora, não chegando à amêndoa verdadeira!
 Via-os como um casal amigo de meus Pais, presença muito amiúde lá em casa, programas comuns e filhos de idades próximas. Eram muito carinhosos em público, um carinho que saltava à vista, e ao qual eu, miúda, não era insensível.  Achava engraçado aquilo... Hoje adulta, acho que em segredo e se calhar inconscientemente, os comparava aos meus Pais que não andavam na rua de mão dada como eles, não se beijavam a toda a hora como eles, não se tratavam por "amor" e outros epítetos verbais ternurentos como eles... não me lembro de isto, na altura, miúda pequena, ter constituído para mim algum problema, ou de me ter detido a pensar nisto, ou de me ter feito perder o sono e nem sei porquê, repito, que hoje me lembrei deles... É assim, outra "pedrinha" da memória que saltou, agora, para o meio do caminho!
Foi por causa de toda essa (aparente) aura de ternura os envolver tanto, que foi para mim um choque, quando adolescente, ser confrontada com a realidade do seu divórcio! Um divórcio doloroso e litigioso! Aí já me lembro, (era mais velhinha) que fiquei muito espantada, como era possível, logo eles que me pareciam tão especiais... Hoje, sei que, de facto, eles não tinham o essencial: aquela manifestação exterior de ternura não estava mesclada do mais importante: cumplicidade... nos projetos, nas opções, nas decisões! Hoje, adulta, sei que a solidez que os meus Pais tinham, não se via de repente, sobretudo para os olhos de uma criança, talvez eu antes a absorvesse no ar que respirava, sem me aperceber, como o oxigénio que inspiramos a toda a hora, automaticamente ... era uma solidez de essência, de diálogo, de confiança, de maturidade, de respeito e, sobretudo, de projeto comum, tendo por isso, aquela beleza profunda que só os olhos esclarecidos vêm... como uma obra de arte de um pintor famoso...
Há relações de todas as cores, formas, tipos e feitios... há relações mais longas, menos longas, mais remotas, mais recentes; há relações que começam sem nunca ter acabado e há relações que acabam porque nunca começaram de verdade, estiveram só a fingir que eram uma relação... há relações que preenchem completamente, há outras que só preenchem o bocadinho que nós deixamos; há relações que resultam de uma entrega total, há outras que são negociadas com "fantasmas" novos ou antigos que nos assombram e quase fazem desistir; há relações que são para a vida, "porque sim", há outras que são descartáveis, porque só vão preenchendo pequenos "balões de oxigénio" que, um dia, chegam ao fim... enfim...
Não sei se a minha relação é a ideal... acho que todos achamos a nossa relação "A IDEAL", ou todos ansiemos por isso!... É talvez por isso que as assumimos e que as adaptamos às nossas vidas... O que sei é que depois do açúcar, ainda sinto que vou conseguindo chegar à amêndoa verdadeira e sabem?... esta, também é doce!!!


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