segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

 
 
NO FUNDO DA ÍRIS
 
Todos os anos é a mesma coisa nesta altura do ano: agitação por todo o lado, luzes, música de fundo nas ruas, gente de um lado para o outro, pressas, um frenesim interior que nos vai anestesiando, festinhas e festarolas em todo o sítio com a justificação do costume: é Natal, é Natal!... E assim se vai passando,sem darmos por isso, esta quadra! Depois, na televisão, os mesmos filmes e/ou séries do costume (ontem deu o "Sozinho em casa" outra vez, dá para acreditar?), as mesmas notícias, a mesmas reportagens sobre a Lapónia, os meninos e meninas que uma, ou outra Associação lá conseguem levar, as mesmas músicas de Natal nas rádios, as mesmas compilações de êxitos, ou pseudo-êxitos natalícios, o mesmo elencar de iniciativas de caridade, boa-vontade, altruísmo, ajuda aos sem abrigo, sem família, sem.... NADA!!!
Sempre me senti um pouco perdida com isto tudo! Sempre me fez confusão todo este agitar à minha volta, mas, paradoxalmente, nunca consegui fugir dele, afastar-me, ou rejeitá-lo. É como ser levada por uma corrente gigantesca, da qual me apercebo, mas contra a qual não posso (ou não consegui ainda...) lutar. É um barulho constante, constante e o barulho, às vezes, não deixa pensar...
Por estes dias, junto a tudo isto um olhar triste nas pessoas. Tenho parado em pequenos "flashes" para olhar para o ANÓNIMO ao meu lado, na rua, na fila do supermercado, nos cafés, nos semáforos, nas filas de trânsito e há qualquer pontinha de sombrio lá no fundo das íris! Aquela sensação de ambiente natalício contangiante de que falo nas primeiras linhas deste texto, é a mesma sensação viral que se sente nas pessoas. Parecem-me quase todas tristes! De facto, aquilo que se relata, aquilo que sabemos, ou que nos é dado a saber pelos media, aquilo que achamos que é vivido pelas pessoas como consequência destes tempos economicamente muito difíceis, será a pontinha minúscula de um iceberg de dificuldades que toda a gente, de uma maneira, ou de outra vai sentindo, por estes dias. Mesmo se olharmos para os "fundinhos" das íris todas, nunca poderemos saber a dimensão das dificuldades e sofrimentos de muitos que se viram/vêm sem emprego, sem nada do que tinham, que às vezes já era tão pouco...
Ninguém, de uma maneira ou de outra, poderá estar imune a isto! É um mal muito maior que nós, completamente alheio à nossa vontade ou poder de mudá-lo, é como se vivessemos todos num "espartilho" de forças que são apertadas por outros, que não nós...
Não sei como ultrapassar isto, ou como ignorar esta sensação de impotência que me/nos assola também de vez em quando, apesar de me esforçar por elencar os momentos felizes e de achar sempre que são muito mais que os outros; mas é verdade: esta "tristeza flutuante " anda no ar e contagia-me também, aos pedacinhos... E aí, mesmo sem saber muito bem o que fazer, porque a anestesia às vezes é geral e leva-se tempo a acordar, mesmo sem saber se irá resultar, mesmo estando eu própria a sentir um bocadinho da tristeza que vejo nos outros, apetece-me "mergulhar" para o fundinho dos olhos deles e dizer-lhes que ÍRIS também quer dizer "borboleta diurna que vive em choupos, ou salgueiros e cujo macho mostra, nas asas, reflexos de cor, ou pó aromático obtido de algumas plantas, ou conjuntos de faixas coloridas que circundam as imagens fornecidas pelas lentes, ou ainda, uma variedade de quartzo irisado, considerado pedra preciosa. E assim, fico um pedacinho menos triste, porque acredito que o vírus passará e as coisas boas continuarão a ser as maiores!


(Definições de Íris, retiradas de Dicionário de Língua Portuguesa, 5ª edição, PORTO EDITORA)

1 comentário:

  1. É mesmo isso, o mundo vive numa "tristeza flutuante". Mas a minha borboleta está em casa, é para ela que sonho com o futuro com alegrias novas e esperanças. Há que não perder o ânimo. Mas é cada vez mais complicado.
    beijinhos

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